segunda-feira, abril 24, 2006

Acha o lead que ele sumiu...

O dia a dia numa redação de um jornal relativamente grande é muito engraçado. Para entender como funciona a mente de um jornalista, é preciso entender como funciona um jornal.

O jornalista entra no trabalho no período da tarde. Ainda não descobri o que os outros jornalistas fazem de manhã, mas eu... bom eu faço de tudo um pouco.

Chegando na redação, ele lê todos os jornais que estão em cima da sua mesa, inclusive aquele que escreveu na noite anterior. Aí, abre seu e-mail e apaga 300 mensagens que não interessam. Essa aliás, é a atividade que mais se repete durante o dia. Só então ele passa o olho nas 200 mensagens que sobraram na sua caixa de entrada. Dessas, umas 2 ou 3 interessam e aí sim ele começa a trabalhar.

Liga pra um, liga pra outro, pergunta daqui, pergunta de lá e só se ouve telefone tocar, pessoas falando aos cotovelos e barulhinho de teclas de computador (já se foi o tempo da máquina de escrever há muito tempo). Já são 17 horas. Hora de escrever.

E então surge a pergunta... cadê o lead? Lead, é aquele primeiro parágrafo das matérias de jornal ou revista. Nesse primeiro parágrafo, o jornalista tem que dar um jeito de escrever e responder todas as perguntas importantes da matéria. E assim segurar a atenção do leitor.

É o lead que mostra ao editor (um jornalista que se acha mais inteligente que o repórter, ou que simplesmente tem mais experiência), a relevância ou não da matéria que está sendo escrita. Geralmente, o lead é a parte mais difícil de se escrever, e deve ser a primeira a ser escrita.

E então já são 19 horas. O primeiro caderno fecha as 19h30. Últimos retoques são feitos nas matérias que já são escritas diretamente nas fôrmas das colunas do jornal. Tem uma pessoa responsável somente em apressar os jornalistas para entregarem as matérias.

Assim acaba o dia, as 22h, quando o último caderno é fechado, e os jornalistas desligam os computadores para irem para suas casas. Nos caminhos para ir e voltar, muitas idéias de matérias podem surgir. E no dia seguinte a rotina vai ser igual, mudando somente o assunto da matéria que ele está escrevendo.

Cuidado. Qualquer coisa que você fale para um jornalista pode e deverá ser usado na construção de uma matéria. Pois a forma que ele enxerga o mundo é a forma com a qual ele vai escrever para você ler e interpretar da maneira que você vê as coisas.

sexta-feira, abril 21, 2006

Coisas de redação


Jornalista é um bicho engraçado... digo por mim mesma.

Tenho que arrumar uma mala, dormir cedo e acordar cedo. No entanto, já são 1h da manhã e cá estou escrevendo... acho que isso é um mal de jornalista... adora escrever!

Pois tenho acompanhado alguns dias de redação. E algumas pérolas são inevitáveis. A melhor de todas (e no momento a única que lembro) aconteceu hoje na editoria de Agrobussines (a galera que coloca o pé na lama).

- fui lá e "vendi"* pra editora a matéria das vacinas... mas eu não vou ficar explicando pra ela que é uma vacina que mata o retrovírus que ataca o sistema imunológico da ave, fui falando logo: "hoje temos uma matéria sobre uma nova vacina para a AIDS do frango, e prevenção de câncer nas aves..." e todo mundo da reunião fez cara que entendeu... então tá bom

- mas tadinha do pintinho... não tem nem três dias de ovo já toma uma vacina...

- as vezes queria ser um pintinho...

* "vender" - um termo jornalístico de apresentação das melhores pautas do dia para os editores chefes. Aqueles que tiverem as melhores matérias podem ganhar destaques na capa do jornal do dia seguinte.

sexta-feira, abril 07, 2006

Eu não sei chorar

Eu não sei chorar.

Não sei fazer a dor sentida se transformar na lágrima caída que encontra a língua num sabor de tristeza que não tem fim. Tenho sentimentos que não encontram os caminhos das fossas lacrimais para sair, e assim ganhar o mundo e participar da atmosfera que circunda tudo e todos.

Eu não sei chorar.

Não entendo como colocar as cartas na mesa, mostrar para os outros minhas fraquezas e problemas. Mostrar que gosto e pronto, mostrar que sinto e apago meu ser.

Eu não mostro, eu guardo, escondo, espero até que aquilo vire.... vire...
Não vira nada, fica ali corroendo sentimentos, passando por entre as entranhas, vivendo dentro de mim.
Não arrebata nem conhece ninguém.
Não confronta, nem enfrenta.
Não divide nem reparte.
Não... não... não.

Lembro da última vez que uma lágrima salgada rolou pelas minhas bochechas e caiu no meu colo, deixando uma marca difícil de apagar.
Faz tempo.

Preciso me perder num mar de lágrimas para poder achar a essência delicada que co-existe no meu ser com o amargo da experiência de viver.