segunda-feira, setembro 04, 2006

Tanto tempo

Faz tanto tempo que não escrevo que nem sei se lembro.
Ando fugindo de muitas coisas.
E as coisas não estão nem aí comigo. Será que estou sendo esquecida?

Passei uma noite em casa... sozinha.
A tristeza bateu na porta e dei entrada. Mas pergunto: poderia evitá-la?

Cada vez que me pego pensando assim me esqueço de todas as outras coisas que faço.
Mas faço muito por quê?
Me pergunto muito por quê?
Me perco e não me acho por que preciso me perder de vez para achar algo que um dia eu olhe e diga: sou eu?

A vida é complicada. Pior ainda se a gente foge dela e consegue driblar perrengues que deveriam estar aquecendo nossos corações.

Eu não escrevo nada. Quem escreve é quem se segue:

Carrego meus primórdios num andor.
Minha voz tem um vício de fontes.
Eu queria avançar para o começo.
Chegar ao criançamento das palavras.
Lá onde elas ainda urinam na perna.
Antes mesmo que sejam modeladas pelas mãos.
Quando a criança garatuja o verbo para falar o que não tem.
Pegar no estame do som.
Ser a voz de um lagarto escurecido.
Abrir um descortínio para o arcano.

Manoel de Barros